21/03/2012

Um dia de um PM

O motor ruge e a viatura sai me permitindo sentir, mais uma vez, os efeitos da adrenalina de mais um dia, que talvez nós não tenhamos a oportunidade de voltar para casa para estar com nossas famílias. Sinto-os de forma praticamente louca, pois o que faz do policial militar sair de casa para cuidar da segurança de pessoas que talvez nem o conheça, é a sensação de mais um dia de dever cumprido. Saímos do quartel e um novo mundo, uma nova realidade se descortina à nossa volta. O rá­dio não pára de dar notícias de ocorrências de toda natureza: furtos, brigas diversas, socorro a alguém ferido, perseguição a algum fugitivo; enquanto, numa esquina qualquer, um PA (policial a pé) dá uma informação a alguém. Por onde passamos somos alvos de olhares diversos: de aprovação e de reprovação, de des­dém e de carinho, de ódio e de amor, de confiança e de temor; uns se alegram e outros se assustam conosco; uns, ainda, se sentem seguros e outros, infelizmente, não. A minoria, graças a DEUS.
Pelos guetos nos acostumamos com a mi­séria da mendicância e também com a sua imundície e mau cheiro. Pessoas há dias sem comer e, talvez, há meses sem tomar um banho sequer, a não ser o da chuva e, isso, quando não acham uma marquise ou uma lataria de um carro abandonado para se esconderem das águas provindas do céu. Com o tempo dá para sentir a sensibilidade se esvaindo aos poucos…
Entramos na viatura sob os mais diversos tipos de olhares e, como se não fôssemos daquele mundo … Mas isso pouco ou nada nos importa. Estamos e estaremos sempre por ali, querendo eles ou não. No fundo, no fundo sabemos que, de uma forma ou de outra a nossa presença faz bem.
Chegamos ao topo da cadeia alimentar. Clas­se alta, quanta diferença dos demais da sociedade, muito dinheiro e pouca sensibilidade com os que não têm se quer um prato de comida para saciar a fome do dia. Basta um breve toque na sirene da viatura e algumas luzes das casas se acendem, moradores saindo nas janelas para verificarem o que está havendo..., rs...

Quanta disparidade…

Paramos em algum ponto estratégico; um supermercado, bar ou padaria. Na maioria das ve­zes as crianças nos ro­deiam com olhares brilhantes e fixos nos revól­veres e demais armas; algumas mocinhas de­monstram-se admiradas com a “farda”; os ve­lhos vêm com as suas histórias da “polícia de antigamente” e, os adultos, na maioria, nos olham firme e friamente nos olhos; alguns, muito pou­cos, ainda esboçam um sorriso ou um aceno de cabeça. Estamos ali. Nós contra quase tudo e quase todos… Estamos ali… Vibrando e prontos a dar a resposta espera­da, ou não, para a sociedade. Estamos ali e sempre estaremos… Sem­pre… Mesmo com toda a nossa limitação, todos sempre poderão contar conosco. Policia Militar nossa Profissão sua VIDA.


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